terça-feira, 21 de agosto de 2012

Já volto!

Já já o blog voltará a ser atualizado. Estou de férias na Turquia e volto com as novidades!

domingo, 12 de agosto de 2012

Da Monarquia à República

Acabo de ler Da Monarquia à República: momentos decisivos, de Emília Viotti da Costa. É um livro de leitura fácil e acho que essencial para quem está se preparando para o CACD - Curso de Adminssão à Carreira de Diplomata.

No livro, a autora cobre o período que vai da declaração de independência (1822) à proclamação da República (1889). É uma excelente revisão sobre o Império brasileiro. Viotti não dá detalhes sobre os gabinetes, apegando-se apenas aos mais importantes, mas nos dá uma visão geral do período. Ela escreve sobre as mudanças que ocorreram em meados do século XIX, sobre a questão da escravidão e da imigração (incluindo as primeiras iniciativas de parceria), sobre a questão de terras no Brasil (fazendo uma comparação com a questão nos Estado Unidos) e, por fim, escreve sobre o processo em torno da proclamação.

Todos nós lemos nos manuais de História do Brasil as questões por trás da Proclamação: a questão religiosa, a questão militar e o Abolicionismo. A tese da autora é de que essa explicação é apenas superficial. O que realmente levou à queda da Monarquia foram as mudanças econômicas e sociais do Brasil, que começaram a ocorrer em  meados do século XIX.

A revolução industrial, o aumento do número de fábricas no país, a revolução nos transportes, o aumento da população, a urbanização e o consequente surgimento de novos grupos sociais levaram à mudança do regime. Viotti destaca a cisão entre o grupo dominante: os barões do café dividiram-se em dois grupos - um decadente e apegado ao trabalho escravo, e outro progressista e aberto às inovações, entre as quais a adoção do trabalho imigrante. À ascensão econômica do segundo grupo, os plantadores do Oeste Paulista, não havia correspondência no plano político.

As mudanças na sociedade brasileira do século XIX não encontram correspondência na instituição monárquica e é esse fator que leva ao fim da Monarquia.

É um livro excelente e rápido de ler! Realmente vale a pena!

Autor: Emília Viotti da Costa
Lançamento: 1999
Edição: Unesp, 7a edição, mas há edições mais novas!
Páginas: 500 (não se assustem, pois a leitura é rápida e fácil)
Este livro: eu fiz cópia há anos, quando ainda estava na faculdade e tinha vontade de fazer o CACD. Hoje, terminei de ler essa cópia tão velha e antes nunca lida!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Havia uma pedra no meio do caminho...

... no meio do caminho havia um arame farpado.

Estudar à distância tem seus percalços. Antes de mais nada, é preciso ter muita força de vontade e determinação. É muito fácil, quando se está longe, esquecer aquilo que queremos. Há tantas coisas para nos distrair. É sempre mais fácil colocar a roupa para lavar do que sentar, abrir um livro e estudar.

É preciso estabelecer rotina. É preciso acordar cedo mesmo não tendo despertador ou ninguém para cobrar nada da gente. O maior compromisso é aquele que temos com nós mesmos.

Atualmente faço alguns cursos online, mas há aulas intermináveis e chatíssimas. Parece que o facebook está sempre me chamando. Nunca foi tão difícil concentrar-se.

Também é difícil encarar os meus medos. Quando temos uma aula ao vivo, sou "obrigada" a assistir àquela aula insuportável sobre controle de constitucionalidade. Pelo menos assim eu aprendo alguma coisa. Mas, sozinha? É difícil encarar as dificuldades.

Estamos sempre nos equilibrando entre o dever e o querer. Tenho sempre que me lembrar aquilo que realmente quero. Há uma pedra no meio do caminho e é preciso jogá-la longe ou fazer dela uma ponte.

sábado, 23 de junho de 2012

Rumo ao CACD 2013: recomeçar!

Desculpem-me, mas recomeçar é sempre uma droga. Recomeçar por onde?Cansei de mensagens de auto-ajuda (com ou sem hífem?) sobre recomeçar. Sinto que o relógio está, impiedosamente, andando, e o tempo me atropela sem dó.

Já tenho tanta coisa acumulada que é difícil saber por ondem recomeçar. Começo a estudar alguma coisa e me parece redundante. Às vezes, dá vontade de jogar tudo fora e começar do zero. O semestre já está terminando e eu ainda estou nesse blábláblá.

É preciso respirar fundo e tomar uns comprimidos para baixar a ansiedade.

Vamos pensar com calma: quais são as matérias mais demandadas no Teste de Pré-Seleção (TPS)? Português, Inglês, Política Internacional e História Mundial. Então decidi o seguinte: vou imprimir e fazer todas as provas de português e de inglês disponíveis do CESPE (banca examinadora que realiza o TPS). Se eu fizer uma prova por semana, vai dar! Além disso: ler a The Economist semanalmente!

Política Internacional: ler as notícias diariamente, acompanhar o site do Ministério das Relações Exteriores e ler as revistas Política Externa (fazer a assinatura está na lista de coisinhas para resolver)! Fazer mais pesquisas na internet sobre os temas que estudarei para agregar dados novos.

E História Mundial? É um problema... tirei um notão em História Mundial no último TPS e é difícil manter o ritmo. Revisar meus resumos e... ler Hobsbawm? Ok, ler Hobsbawm e Diplomacy do Kissinger. Alguém aí não me apoia ou tem ideia melhor? Recomendo muitíssimo o livro, sobre século XX, pelo qual estudei no ano passado! Chama-se História do Mundo Contemporâneo, do Norman Lowe. Não achou mais na livraria? Se vire! Gaste uma grana, tire uma cópia, pois esse livro é fun-da-men-tal! Fichei ele todinho e obtive ótimo resultado!

O que falta?
  • Direito Constitucional - ler Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino (desculpem-me os fãs de Alexandre de Moraes)
  • Direito Internacional - terminar de ler Paulo Henrique Portella (o quê mais eu poderia ler para complementar? Onde achar atualidades?)
  • Será que eu preciso estudar Direito Administrativo?
  • Geografia - por onde começar? O livrão do Milton Santos já está super desatualizado. Super recomendo o último Manual do Candidato de Geografia para começar. Acho que é um dos poucos Manuais que vale a pena ler. Mas, passada essa etapa, para onde ir?
  • História do Brasil - reler meus fichamentos e outros textos avulsos que eu tenho. Estou ok nessa disciplina.
  • Economia
    • Microeconomia - OK
    • Macroeconomia
    • Economia Internacional
    • História Econômica do Brasil
  • Redação - já estou fazendo cursinho online e está legal! Continuar no próximo semestre!
  • Espanhol - bueno, já estou estudando!
  • Françês - voltar a estudar só no próximo semestre.
Parece muito? Estamos só começando. É difícil sistematizar o estudo e manter uma rotina. Alguém aí tem  outras sugestões?

Recomeçar é uma droga!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Rumo ao CACD 2013!

Há algumas semanas este blog está em crise. Resolvi que ele vai mudar, mas é só um pouquinho, don't worry! Vou continuar escrevendo aqui sobre as minhas incansáveis leituras e continuo com o meu compromisso de terminar e escrever sobre Crime e castigo até o final do mês.

O blog vai mudar porque a rotina mudou, mas, ao mesmo tempo, nada mudou. Não mudou nada, pois continuo estudando para o CACD 2013, ou seja, para o Concurso de admissão à carreira de diplomata, que deverá ocorrer no início de 2013. Tudo mudou, pois decidi focar a escrita mais nisso: no estudo, no planejamento, no que eu tenho lido. Achei que essa seria uma maneira de me organizar melhor, me incentivar mais e, quem sabe, ajudar alguém.

Vamos juntos?

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Às traças...

... e, de repente, o Blog ficou jogado às traças. É que é difícil, vocês precisam entender: é difícil concentrar-se, estudar à distância, ler livros no Ipad, escolher o quê ler, ler em espanhol, estudar espanhol, estudar tudo ao mesmo tempo, decidir o futuro, dominar o mundo.

Se não consigo me concentrar e ler uma sentença, como vou ler Dostoiévski? Se não consigo ficar sentada por mais de 10 minutos, como vou desenhar os gráficos do mercado monopolista? Se moro em um país em crise com embargos a livros importados, como vou providenciar o que eu preciso?

Eu tenho que decidir o que eu quero ser quando eu crescer hoje?

E, enquanto isso, o Blog fica assim... às traças!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Clássico dos clássicos

Recentemente, a Livraria Cultura publicou uma listinha de livros que, segundo ela, são OS clássicos. Fui dar uma olhadinha e cheguei a algumas conclusões:

  • Não concordo com a presença do livro do Tolkien na listinha. Vamos combinar que, apesar do modismo, esse livro não é exatamente um clássico;
  • De 30 livros, há apenas 5 brazucas;
  • Como já escrevi no meu post Confissão, há o total desconhecimento por nós dos nossos vizinhos latino-americanos e apenas o Gabriel García Márquez está presente;
  • Não entendi o porquê de eles colocarem Morte em Veneza e não A Montanha Mágica do Thomas Mann, que eu considero bem mais representativo de sua obra (além de muito melhor);
  • Tirando esses comments, achei tudo bom. Vamos a ela (desculpem a formatação tosca da tabela, mas não consegui fazer nada melhor):
Já li 11 dos 30 clássicos e você?

Desses aí, Guerra e Paz, de Tolstoi, é, sem dúvidas, o melhor de todos! Li no ano passado, em uma semana, pois é impossível parar de ler este livro. Se você tem fôlego, recomendo! O Apanhador e O Velho e o mar reconheço que são clássicos, mas não gostei da leitura de nenhum dos dois. Tudo bem que os li há mais de dez anos e, talvez, a imaturidade da época tenha influenciado na minha opinião. Esses, eu recomendo só para você poder criticar depois. Sobre Cem anos de solidão fiz uma resenha aqui.

E como estão suas leituras em relação a essa listinha?

Qual é o seu clássico que não está aí?

terça-feira, 29 de maio de 2012

A eterna dúvida do concurseiro

E é assim: escolhemos o concurso que queremos fazer, e decidimos que queremos fazê-lo desde pequenininhos. O concurso passa, mas nós não passamos. Surgem 1.001 novos concursos em seguida, com disciplinas que nunca vimos na vida, mas que caem em quase todos os outros concursos (menos naquele com o qual sonhamos). Com esses novos concursos surge a pressão da família e dos amigos, mas, pior do que tudo, surge a nossa própria pressão.

E aí? Fazemos esses 1.001 outros concursos ou não? Encaramos o novo desafio? O tempo dedicado nos preparando para ele (e há pessoas que estão se preparando há anos antes de nós) não poderia ser melhor utilizado nos preparando para o que realmente queremos? Mas, por outro lado, vamos arriscar deixar mais um ano passar? Não é melhor tentar garantir logo um concurso, mesmo que pague menos?

A dúvida me persegue. Se você aí do outro lado tem uma dica, uma sugestão, uma resposta, uma macumbinha básica para acalmar os ânimos, manda para cá!

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Dia da África!

Hoje, 25 de maio, é Dia da África! O Ministério da Educação, em comemoração, disponibilizou 08 obras sobre a África, de escritores africanos. Na verdade, estas obras já estavam disponíveis no Domínio Público há mais tempo, mas, hoje, o governo se propõe a fazer maior divulgação delas. É um olhar sobre o continente a partir de sua própria sociedade. Os títulos são:

1. África antiga;
2. África desde 1935;
3. África do século VII ao XI;
4. África do século XII ao XVI;
5. África do século XVI ao XVIII;
6. África do século XIX à década de 1880;
7. África sob dominação colonial, 1880-1935;
8. Metodologia e pré-história da África.

Todos eles foram publicados pela UNESCO. Clique no banner e faça o download!
Por quê?
O Dia da África é comemorado no dia 25 de maio, quando o continente celebra seus 49 anos de independência.

Outros títulos:
No site da Fundação Alexandre de Gusmão há outros títulos disponíveis para download. Clique aqui, faça uma busca e comece a baixar!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Memória de minhas putas tristes


Combinei com uma amiga de lermos Memória de minhas putas tristes juntas. Ela iria lê-lo para o curso de espanhol, e eu estou em minha fase latino-americanista. Confesso que já deveria ter terminado o livro há tempos, mas a mudança de casa e a confusão que veio a seguir não deixaram. Fui lendo devagarrziiiinnnnhhhhoooo, parei de ler, respirei fundo, recomecei e li de uma vez.

Fiquei surpresa com a escrita de Gabriel García Márquez, muito diferente do que li em Cem anos de solidão ou em O amor nos tempos do cólera. O livro mais parece um conto e pouco há do realismo mágico (em breve, um post sobre o tema), pelo qual García Máquez é tão conhecido. Será que há um pouco de autobiografia nele?

Esse é o terceiro livro que eu leio do autor e já posso perceber alguns temas que são transversais em sua obra: o tratado de Neerlândia (também citado em Cem anos, que colocou fim à guerra dos Mil Dias na Colômbia) e a temática do personagem que faz a relação de suas amantes (já abordado em O amor nos temos de cólera). Parece-me que essa intertextualidade é constante. Por sinal, é essa listinha de amantes que dá o nome ao livro, que nada mais é do que uma memória de suas putas tristes.

A personagem sem nome, que tem fama de sábio, narra uma vida sem grandes acontecimentos até o seu aniversário de 90 anos, quando há “o início de uma nova vida, e numa idade em que a maioria dos mortais está morta” (p.09). É nessa noite que a personagem conhece o seu 1º amor, Delgadina (nome fictício, inventado por ele), com quem tem um amor quase platônico. Quase platônico, pois não há um relacionamento de fato. Enquanto a menina dorme, o nonagenário vive uma vida de fantasias. Ele torna-se um apaixonado. A personagem diz: “dito às claras e às secas, sou da raça sem mérito nem brilho, que não teria nada a legar aos seus sobreviventes se não fossem os fatos que me proponho a narrar do jeito que conseguir nesta memória do meu grande amor” (p.11).

Em muitos aspectos a história me lembrou muito com a de O amor nos tempos do cólera: ambas as personagens (Florentino Ariza, no caso do segundo livro) têm uma vida devassa, fazem uma coletânea de suas parceiras e descobrem o amor em idade avançada. Ambos descobrem que “o sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança” (p.79).

O livro é curto, monotemático e agradável de ler! Não me apaixonei pela personagem principal, como ocorreu nos demais livros que eu li de Gabriel García Márquez. Fiquei o tempo todo esperando que algo surreal acontecesse, como é esperado em suas obras. Nada disso aconteceu, mas o livro reforçou, em mim, a certeza de que nunca é tarde para começar a amar (ok, ok, reconheço que fui piegas agora!). Fiquei com algumas passagens na cabeça, que gostaria de compartilhar:

“A falta de sossego acabou com o rigor dos meus dias. Acordava às cinco, mas ficava na penumbra do quarto imaginando Delgadina em sua vida irreal de acordar os irmãos, vesti-los para a escola, servir o café da manhã, se houvesse o que pôr na mesa, e atravessar a cidade de bicicleta para cumprir a pena de pregar botões. E me perguntei assombrado: Em que pensa uma mulher enquanto prega um botão? Pensava em mim? Ela também procurava Rosa Cabarcas [a cafetina] para me achar? Passei uma semana inteira sem tirar o macacão de mecânico nem de dia nem de noite, sem tomar banho, sem fazer a barba, sem escovar os dentes, porque o amor me mostrou tarde demais que a gente se arruma para alguém, se veste e se perfuma para alguém, e eu nunca tinha tido para quem” (p.92-93) [observação minha].

“É que estou ficando velho, disse a ela. Já ficamos, suspirou ela. Acontece que a gente não sente por dentro, mas de fora todo mundo vê” (p.109).

“A idade não é a que a gente tem, mas a que a gente sente” (perdi o número da página).

Gabriel García Márquez

Autor: Gabriel García Márquez (Colômbia)
Lançamento: 2005
Edição: Record, 2006
Páginas: 127 (para ler rapidinho!)
Este livro: pelo que eu pesquisei, foi inspirado em um livro do também Prêmio Nobel japonês Yazunari Kawabata, cujo título é A casa das belas adormecidas. Por sinal, uma passagem desse livro está na epígrafe do Memória.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

E se alguém nascesse grudado a você?


E se você nascesse grudado a alguém?

Grudado mesmo. Fisicamente grudado.

Como é viver assim? Andar de bicicleta, ir à escola, trabalhar, namorar, beijar, ter filhos... como é que funciona?

O livro Meninas inseparáveis da canadense Lori Lansens é sobre isso e muito mais!

Rose e Ruby Darlen são irmãs siamesas, que nasceram unidas pela cabeça. Elas são inseparáveis

Apesar da patologia, a  autora optou por focar a narrativa no dia-a-dia das protagonistas: as dificuldades,  a relação entre Rose e Ruby e entre elas e as demais personagens. Foi este enfoque que despertou minha curiosidade e que, ao mesmo tempo, torna o livro interessante.

Gostei da forma (inovadora?) na qual ele foi escrito: Rose e Ruby decidem escrever um diário sobre suas vidas. Então o livro é assim: cada capítulo é um trecho do diário de uma das meninas. As narrativas se revezam entre o diário de Rose e o de Ruby. Elas escrevem sem que uma possa ler o que a outra está escrevendo, logo, às vezes, ocorre de o mesmo momento ser descrito duas vezes, sob um olhar diferente.

Como surgiu, na autora, a ideia de escrever sobre um tema tão extravagante? Foi quando seu filho pequeno encostou a cabeça na sua e lhe disse: "eu queria que a gente ficasse grudado desse jeito!".

Meninas inseparáveis é sobre superação. É muito bom e é impossível não se envolver com a leitura. Também é impossível não desenvolver simpatia por uma das meninas e gostar mais de uma do que de outra. É uma leitura que eu recomendo!

Ah! O livro ficou na lista dos 10 mais vendidos, no Reino Unido, no ano do seu lançamento (2006). Ele ganhou o Richard and Judy Award, como uma das três melhores obras publicanas na Inglaterra naquele ano.

Livro: Meninas inseparáveis
Autor: Lari Lansens (Canadá)
Lançamento: 2006
Edição: Globo, 2006
Páginas: 392 (dá para ler rapidinho!)
Este livro: reencontrei, na semana passada, ao desempacotar minha mudança. Apesar de ler lido no início de 2010, ele ficou na minha memória e, por isso, recomendo hoje!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Aprender espanhol em Buenos Aires: a missão - Parte I

Amanhã completará 01 mês que me mudei para Buenos Aires. Nesse tempinho fiz muita coisa: morei em um apart, visitei alguns apartamentos, mudei-me, comecei a desempacotar a mudança, resolvi documentação, andei pela Recoleta, providenciei telefone e tentei abrir conta no banco, entrei na academia, entre mil e outras pequenas coisas que temos que resolver quando mudamos de cidade. Uma coisa eu não fiz: falar com os porteños.

E por que não conversei com as pessoas na rua ou com as mucamas que infernizavam minha vida no hotel? Porque, simplesmente, não falo espanhol. E não falo assumidamente! Não gosto (e acho feio) falar portuñol. Não quero (como ouvi outro dia) pedir um sanduíche quiente. Se não falo, não falo e pronto! Além disso... ô povinho que fala rápido!

Quando soube que viria para cá, comecei a procurar cursos de espanhol! Para principiante mesmo, sabe? Nada de dizer "compreendo, mas não escrevo", como colocamos no curriculum! A boa notícia é que há muitas opções.

Primeiramente, todo mundo tem um professor particular para indicar, mas não era isso o que eu procurava. Queria voltar à sala de aula, com turminha e prova, sabe? Qual a melhor maneira de conhecer gente e de se obrigar a estudar? Quando eu morava na Indonésia, comecei a fazer aulinhas particulares de bahasa indonésio, mas vi que não funcionaria para mim: eu sempre tinha algo mais importante a fazer e desmarcava a aula.

Uma boa opção é dar uma olhada nos sites das universidades locais. E há muitas! Quase todas oferecem cursos de espanhol. Procurei a UBA, pois, aparentemente, é uma das maiores por aqui! Algumas coisas me atraíram:
  • O fato de ser em uma universidade: assim, temos contatos com outros alunos e temos acesso à biblioteca;
  • Eles têm turmas para brasileiros, o que eu achei legal. Por razões óbvias, temos mais facilidade para aprender espanhol do que um norte-americano ou um alemão. Além disso, tive uma experiência interessante na Indonésia: abandonei um curso de francês, pois, por falar uma língua latina, tinha mais facilidade e aprendia mais rápido do que os indonésios (cuja língua em nada se assemelha ao francês).
Enfim! Finalmente hoje era o dia da inscrição e lá fui eu: peguei um taxi e gastei quase todo o meu espanhol: "25 de mayo, número 221, por favor". Parei em um prédio que me lembrou a Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia - aliás, que deve lembrar todos os prédios de federais no Brasil: caindo aos pedaços.

Relutantemente, fiz uma prova de nivelamento. Expliquei-me duas vezes: "não falo espanhol, nunca tive uma aula de espanhol na vida, logo estou no nível elementar". Curta e grossa, a professora me disse que é ela quem decide se eu falo espanhol ou não. Uma hora depois fui nivelada como pré-intermediária. Voltei para casa feliz da vida ao descobrir que sei, sim, falar um pouquinho de espanhol e que a minha vergonha em falar portuñol só me fez perder momentos legais no meu primeiro mês aqui.

Como desde o início gostei da proposta da UBA, não saí por aí procurando outros cursos e comparando preços. Mais informações:
  • As aulas são de segunda a quinta, de 11 às 13h;
  • O curso dura 02 meses. Ao final de cada curso há provas e o aluno aprovado recebe um certificado;
  • Em alguns períodos do ano (mas não neste) há cursos intensivos de 01 mês;
  • No total, são 03 níveis;
  • Alunos de origem de algum dos países-membro do Mercosul têm desconto (oh yeah!);
  • Custo: à vista 1.710 pesos ou parcelado em duas vezes, 900 e pouco pesos;
  • O material está incluído no preço.
A seguir, cenas do próximo capítulo...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

De que cheiro você gosta?

Hoje, achei isso no Facebook:
Eu gosto é do cheiro dos livros velhos do meu avô.
E você?

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Cem anos de solidão


Não é fácil escrever sobre um livro como Cem anos de solidão. Começo, aqui, reconhecendo minhas limitações. Terminei de lê-lo há, mais ou menos, uma semana e fiquei enrolando até esse momento para escrever esta resenha. Encontrei-me contra a parede: enquanto não a escrevia, não me permitia começar a ler outra coisa. Então, vamos lá!

Não sei por que, mas tinha um certo medo de ler esse livro. Sempre ouvi dizer que ele era muito longo, muito complicado, muito chato, muito... lá estava eu, mais uma vez, na Livraria Cultura de Porto Alegre, quando vi a sua nova edição olhando para mim, implorando para ser devorada... folheei; estranhei, pois achei-o curto com letras grandes; comprei! A leitura estendeu-se um pouco mais do que eu queria: comecei a lê-lo nas férias em Chapecó, que se prolongaram a Porto Alegre e terminei-o depois da mudança para Buenos Aires. Engraçado eu ter terminado aqui, cidade em que ele foi lançado pela primeira vez em 1967.

Apesar de o livro completar, este ano, 45 anos (!!!), ele é muito atual. As personagens são tão bem construídas, que é impossível não se identificar com alguma delas (ou várias delas). É inevitável não se emocionar e não ver poesia em cada frase.

Cem anos de solidão conta a saga dos Buendía, uma família de solitários. A história é contata em círculos, que se fecham e, depois, se repetem na nova geração de Aurelianos e de José Arcádios.

"...o coronel Aureliano Buendía quase conseguiu compreender que
o segredo de uma boa velhice não é mais que um  pacto honrado com a solidão (...)
Alguém se atreveu, certa vez, a perturbar sua solidão:
- Como vai, coronel? - perguntou ao passar.
- Aqui - respondeu ele. - Esperando meu enterro passar" (p.238).

Já no começo, notei grande similaridade entre Cem anos (já estamos íntimos, afinal, foi uma leitura de mais de 01 mês!) e O tempo e o vento, de Erico Veríssimo, escrito entre 1949 e 1962: ambos contam a trajetória de uma família em uma cidade em formação (Macondo e Santa Fé); ambos estão repletos de guerras, de romances e de paixões (extraconjungais); para mim, algumas personagens são até mesmo “parecidas” (Úrsula e Bibiana, ou Fernanda Del Carpio e Luzia Silva); é impossível acompanhar as narrativas sem constantes olhadas na árvore genealógica das respectivas famílias. Sempre soube que precisaria ler Cem anos com um caderninho de anotações ao lado para ir mapeando a família, mas o legal da nova edição é que ela já vem com a árvore genealógica dos Buendía! Navegando pela internet, achei umas árvores muito complicadas (doidas)!



Ao contrário dos meus preconceitos (no sentido literal da palavra), a leitura é agradável e fácil. Não posso dizer que é rápida, pois é impossível não parar para ficar remoendo passagens. Sobre uma delas, fiz até um post (Caralho!). Acho que é preciso ler o livro inteiro para entender o seu significado. É preciso conhecer Úrsula melhor.

"Úrsula passou a tranca na porta, decidida a não tirá-la pelo resto da vida.
'Vamos apodrecer aqui dentro', pensou.
'Vamos virar cinza nesta casa sem homens, mas não daremos a este povoado miserável
o prazer de nos ver chorar'.
Ficou a manhã inteira buscando uma recordação de seu filho nos rincões mais secretos,
mas não conseguiu encontrar nada" (p.214).

Em 1982, Gabriel García Márquez ganhou o Prêmio Nobel de Literatura por “seus romances e seus contos, nos quais o fantástico e o realismo são combinados em um mundo ricamente composto pela imaginação, refletindo a vida e os conflitos de um continente” (tradução livre – retirado de Nobelprize.org).

Em 2007, no IV Congresso Internacional da Língua Espanhola, na Colômbia, este livro foi considerado a 2ª obra mais importante da literatura hispânica, ficando atrás apenas de Dom Quixote.

Precisa de um motivo a mais para começar a ler? A jornada é fantástica!


Livro: Cem anos de solidão
Autor: Gabriel García Márquez
Lançamento: 1967
Edição: Record, 2011
Páginas: 447 (com letras grandes!)
Esse livro: é meu, comprado na Livraria Cultura de Porto Alegre

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Enquanto isso, na Argentina...

Hoje, Buenos Aires acordou assim:
Foto: Bete Thomas-B.
Foto: Bete Thomas-B.

  • Vista da minha janela.
  • CFK = Cristina Fernández de Kirchner.
  • YPF = Petroleira, filial do grupo espanhol Repsol, declarada "de interesse público nacional" e nacionalizada esta semana. Hoje, a YPF Gas S.A. também foi expropriada.

domingo, 15 de abril de 2012

Buenos Aires, primeiras impressões


O Blog é “sobre livros, literatura, estudo e outras coisinhas mais...”, então, decidi escrever sobre outras coisinhas mais!

Hoje, faz 1 semana que me mudei para Buenos Aires. É pouquíssimo tempo, eu sei! Estive aqui para fazer turismo, na mesma época do ano passado, mas agora tudo é diferente, ganha outra perspectiva.

Não quero assistir a show de tango, não quero comer alfajor, não quero passar meu domingo na feira de San Telmo ou ficar perambulando pela Calle Florida. Quero achar manicure boa (e que tire bem os cantinhos), lugar para fazer depilação (aceito sugestões!), ap legal e academia. Não quero andar pelas ruas com lojas de luxo da Recoleta, mas descobrir qual o supermercado melhor para fazer compras. Quero documentação e linha no celular. Quero ver como meu cabelo vai reagir ao novo clima!

Uma semana é pouco. Muito pouco. Mal saí da Recoleta, mas vou me atraver a pontuar umas coisinhas boas e não tão boas que senti por aqui. Coisas que, talvez, um turista não note.

02 coisas boas em Buenos Aires:
  • Vida cultural. Estou impressionada com a quantidade de coisas rolando pela cidade! Essa semana começou a mostra de cinema alternativo (com mais de 400 filmes); próxima semana, começa a feira do livro; além de muitas exposições, teatro, ópera. É preciso correr para conseguir ingressos! Neste quesito, São Paulo fica atrás!
  • Fazer tudo a pé. Tudo é perto e as ruas são arborizadas e planas. O transporte público é bom, e o táxi é barato. É muito bom ter tudo ao alcance da mão, sem ter que se preocupar com trânsito ou estacionamento. O sentimento de liberdade que isso traz é muito bom!

02 coisas não muito boas em Buenos Aires:
  • Serviço. Você adora reclamar do serviço no Brasil? Venha para cá! Mas não venha com a tranquilidade das férias, quando você pode passar 2 horas no restaurante. Aqui, não existe “vou ali almoçar rapidinho e depois resolver tal coisa” ou “vou dar uma olhadinha rápida nessa loja”. São os garçons quem decidem quanto tempo você vai ficar no restaurante (e prepare-se para ouvir um resmungão caso não deixe gorjeta mesmo achando o atendimento ruim) e, nas lojas, é preciso caçar alguém para te atender. A impressão que eu tenho é que ninguém recebe comissão e, como as gorjetas são obrigatórias, não é preciso prezar pela qualidade.
  • Estado. O Estado é uma figura presente no dia-a-dia do argentino! Como assim o futebol foi estatizado? Como assim há racionamento de erva-mate? Se você é da minha geração, só conhece racionamento no Brasil por meio dos livros de história!

Enfim, ainda estou descobrindo a cidade sob uma perspectiva nova, de moradora, e não de turista. Outro dia, observando a quantidade de velhinhos e de cachorrinhos passeando na rua, me peguei dizendo: aqui deve ser uma  boa cidade para envelhecer!

sábado, 14 de abril de 2012

quinta-feira, 12 de abril de 2012

De quem é o seu apêndice?



Quando você passa por uma apendicectomia (remoção do apêndice), de quem é o apêndice que sai de você? É seu? Você diz “meu apêndice para viagem, por favor!”? Vai lá despedir-se dele? Dizer adeus para essa parte tão íntima do seu “eu”?

E na cirurgia de redução de estômago? Você se descabela, entra em depressão porque irá separar-se eternamente daquele que sempre esteve tão ligado a você e que foi fonte inesgotável de preocupação? Aquela parte de estômago extirpada é sua? Você tira uma foto e leva de recordação para casa?

E o tumor, aquele odiado? É seu ou você nunca mais quer ver a cara dele?

Quando você sai aliviado do hospital, para onde vão seus desamparados apêndice, estômago e tumor? Rejeitados, eles vão para o lixo hospitalar? Muitas vezes, sim. No grandes hospitais que desenvolvem pesquisa, não. Tudo é aproveitado.

Um dia, um indivíduo teve câncer, internou-se e fez tratamento. Seu tumor era brutal. Crescia, apesar de todos os medicamentos. Alguém pensou “será que é possível que essas células, tão potentes, sobrevivam fora do corpo do paciente? Afinal, elas não param de se reproduzir!”. Era 1951, a pesquisa com células dava seus primeiros passos, a paciente era mulher, pobre e negra. Ela não assinou nenhuma autorização.

Foram as primeiras células a sobreviver em laboratório. A paciente morreu. O nome dela era Henrietta Lacks. As suas células viveram e ajudaram a desenvolver medicamentos, terapias, salvaram vidas. Sem elas, como a indústria farmacêutica poderia testar novas drogas e tratamentos? Hoje, em 2012, as células de Henrietta ainda não pararam de se reproduzir. Se você trabalha em laboratório, já deve ter se deparado alguma vez com a Henrietta. Basta um telefonema para uma empresa do ramo e você pode comprar um lote das células HeLa (as duas primeiras sílabas do seu nome) para desenvolver sua pesquisa e fazer testes.

É surreal que suas células estejam por aí, revolucionando o mundo, enquanto seu corpo não existe mais. A família de Henrietta ainda existe. Ela teve filhos, que tiveram filhos. Eles estão por aí e continuam como sua mãe: pobres e negros. Até hoje, não ganharam um centavo, um reconhecimento, um agradecimento, nada! Na verdade, muitos anos se passaram até que descobrissem que as células de sua mãe estavam rodando o mundo sem lhes dar notícias.

Essa história é contada no livro maravilhoso de Rebecca Skloot, denominado A vida imortal de Henrietta Lacks. Ano passado, estava na Livraria Cultura de Porto Alegre e me deparei com ele na estante dos Lançamentos. Fiquei curiosíssima em relação àquela mulher, com a mão na cintura, que aparece na capa! Fã de biografias, adquiri-o sem pensar muito e o li em dois dias! Olha, vou dizer que, dos livros de li nos últimos dois anos, esse foi um dos melhores. Até hoje penso nele e não podia deixar de recomendá-lo. Ainda preciso desenvolver um sistema de pontuação para os livros aqui no Blog. Esse, com certeza, terá 5 estrelinhas! * * * * *

O livro reconstrói a trajetória de Henrietta Lacks. Seus filhos são localizados, e a autora acompanha o desenvolvimento de sua família (muito centrado na vida de uma de suas filhas, que ainda sofre imensamente a perda da mãe) e a luta pelos seus direitos. Adoro livros com fotos no meio! Hoje, os laboratórios de todo o mundo continuam reproduzindo, vendendo e fazendo fortunas com as células HeLa. A família, sem direito a nada e miserável, assiste de camarote.

Rebecca Skloot nos conta um pouco a história da pesquisa com células e nos situa em relação ao debate sobre a propriedade das células, tecidos e órgãos humanos quando eles estão fora do indivíduo. Parece chato, né? Mas é fantástico! Não se preocupem, o livro é para leigos e é uma delícia lê-lo!


Os médicos dizem que, ao retirar um órgão, tecido ou célula de um paciente, aquele pedaço não lhe pertence mais. Eles são encaminhados para o lixo hospitalar (no caso de hospitais e clínicas muito pequenas) ou são armazenados em bancos próprios e vendidos para fins de pesquisa. E o paciente? Sai do hospital feliz e, de preferência, nunca mais quer ouvir falar no seu apêndice, mesmo que ele tenha ajudado a desenvolver uma droga que esteja rendendo milhões de dólares.

O que você acha disso? De quem é o seu apêndice? Depois de ler o livro, comecei a me perguntar por onde estaria o meu. Será que ele foi responsável pela descoberta da cura de alguma doença e eu não sei? Será que tem gente rica às custas dele?

O livro traz à tona questões de gênero e de raça. Deixa-nos com a pulga atrás da orelha: o quão ética são as pesquisas de hoje? A medicina dá saltos evolutivos se não for por meios tortuosos?

Onde está o seu apêndice?
  • A primeira imagem do posto é uma foto atual da Henrietta Lacks!
  • Dê uma olhadinha no site oficial da autora aqui, onde você pode assistir ao trailer do livro. Gostei muito!
  • Navegue na página da The Henrietta Lacks Foundation.
  • Li, não lembro onde, que a Oprah está planejando transformar o livro em filme. Vamos aguardar!


Livro: A vida imortal de Henrietta Lacks
Autor: Rebecca Skloot
Lançamento: 2011
Edição: Companhia das Letras, 2011
Páginas: 456 (com direito a algumas fotos!)
Esse livro: comprei, li, e dei para minha irmã!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Confissão

Eu, Elizabete Thomas-Burkhardt, confesso a minha quase completa ignorância em relação à literatura de nossos vizinhos. Não sei por quê, mas sempre li bastante a literatura europeia (sem acento mesmo, por causa do novo acordo ortográfico!), principalmente os clássicos. Cresci com Kafka, Camus, Hermann Hesse, entre outros. Adorava caçar, na internet, listas dos "100 livros do século XX" para ir devorando-os e, depois, riscando-os da lista.

Os brasileiros é claro que eu li, afinal, eles iriam ser cobrados nas intermináveis provas de português da escola e, depois, no vestibular. Como não ter que ler Machado de Assis?

Mas os nossos hermanos... diga, rápido, o nome de um escritor colombiano! Ahá! Como me mudei essa semana para a Argentina, coloquei como meta conhecer melhor nossos vizinhos. Recentemente, comecei a ler Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, autor colombiano e estou en-can-ta-da! Mas isso é assunto para outro post... Também estou super empolgada com a Feira do Livro, que começa na próxima semana aqui em Buenos Aires, mas isso também é assunto para después!

E por que essa confissão agora? Porque acabo de descobrir uma necessidade! A Folha de São Paulo lança, este mês, uma coleção entitulada Literatura Ibero-Americana. São 25 livros, que começam a ser vendidos nas bancas, em todo o Brasil, a partir de 15 de abril!

Fui olhar a lista de autores e, apesar de conhecer vários nomes, não li nenhum título da lista. Ignorância total, mas muita curiosidade! Entre as 25 publicações estão: 05 argentinas; 04 portuguesas; 03 espanholas; 02 uruguaias; 03 chilenas (há, inclusive, uma publicação inédita do Pablo Neruda); 01 peruana; 01 cubana; 01 mexicana; 01 colombiana (que não é do Gabriel García Márquez! Você sabe o nome de outro escritor colombiano?). Entre os brazucas estão: Raduan Nassar; Moacyr Scliar, Lygia Fagundes Telles; Milton Hatoum; Hilda Hilst.

A Folha não está me pagando para fazer propaganda, mas tenho que dizer que a coleção é imperdível! Realmente, uma necessidade! Não sei como irei adquiri-los, uma vez que estou fora do país, mas, em breve, espero lê-los para dividir minhas impressões com vocês!

Obtenha mais informações aqui!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Poesia & Relações Internacionais

Pode a poesia abalar as relações internacionais?


O que aconteceu:  no dia 04 de abril, o escritor alemão Günter Grass publicou, no jornal Süddeutche Zeitung, sua nova poesia entitulada Was Gesagt Werden Muss – O que deve ser dito (tradução livre), que gerou enorme polêmica e muito debate. Veja a notícia original aqui.

Quem é Günter Grass: escritor alemão e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1999, é o autor de O Tambor (que ainda não li, mas que foi filmado em 1979 e ganhou, no Festival de Cannes, o prêmio de melhor filme e, no ano seguinte, o Oscar de melhor filme estrangeiro).

Hoje, ele tem 84 anos e é uma figura controversa: há alguns anos, em obra autobiográfica, revelou que foi membro das Forças Armadas da Alemanha Nazista. A notícia, oculta por 6 décadas, gerou contendas. Alguns autores posicionaram-se a favor de Günter Grass, defendendo a ideia de que autor e obra são coisas distintas. O escritor português José Saramago o criticou, e outros foram ainda mais longe em seus julgamentos em relação à obra e à ética do autor.

Sobre o que é: por meio do poema, Günter Grass posiciona-se em relação a temas controversos da atual política internacional. São eles: possibilidade de ataque preventivo de Israel ao Irã; possibilidade de haver, sob jurisdição do primeiro, arsenal atômico; impossibilidade de inspeção desse arsenal e necessidade de fazê-lo, assim como em relação às instalações nucleares iranianas; apatia da comunidade internacional frente a essas questões; crítica à venda de submarinos nucleares pela Alemanha a Israel. O escritor alemão acusa esse país de colocar em perigo a frágil paz mundial e insiste para que ele renuncie ao uso da força em suas relações internacionais.

Repercussão: o poema gerou controvérsias! Imediatamente, Israel declarou Günter Grass persona non grata (o que quer dizer que ele está proibido de entrar em Israel). Muitos escritores começaram a posicionar-se e os questionamentos em relação ao passado obscuro do autor voltaram à tona. Aventou-se até mesmo a possibilidade de retirar o Prêmio Nobel concedido em 1999 por causa de sua suposta atitude imoral (criticar é ser imoral?). Hoje, a academia sueca anunciou que não há razão para tal atitude.

Manifestantes, escritores, políticos – todos estão se posicionando em relação ao poema. A questão chegou nas altas instâncias: a chanceler Angela Merkel disse estar “horrorizada”; o ministro do Interior de Israel, Eli Ishai, disse que o escritor alemão é antissemita e incita o ódio a Israel; o ministro da Saúde alemão, Daniel Bahr, disse que tudo isso é um “exagero”.

De fato, o poema é uma crítica aberta à política do Estado de Israel. Mas, e daí? Não podemos criticar (com responsabilidade, claro) aquilo com o que discordamos? Proibi-lo de entrar em Israel é a resposta? Retirar o Prêmio Nobel de Literatura concedido há mais de 10 anos vai calá-lo? Vai mudar o que ele pensa?

Penso que o poema deveria levantar outro tipo de questão. Ao invés de revisitarmos o passado de Günter Grass e questionarmos se ele foi ou é antissemita, deveríamos nos ater ao mérito literário. Por que não discutimos a mensagem que ele passa no poema O que deve ser dito? Deveríamos discutir mais política e menos a vida dos outros.

E você? Que tal posicionar-se você também?

O que deve ser dito
Günter Grass
(tradução livre)


Por que me calo há tanto tempo
sobre o que é evidente e se empregava
em jogos de guerra em que no fim, sobreviventes,
terminamos como notas de rodapé.
É o suposto direito a um ataque preventivo
que poderia exterminar o povo iraniano,
subjugado e levado a um júbilo orquestrado por um fanfarrão,
porque em sua jurisdição suspeita-se da fabricação de uma bomba atômica.
Mas, por que me proíbo de dizer o nome
desse outro país em que há anos, ainda que secretamente,
dispõe-se de um crescente potencial nuclear
fora de controle, já que é inacessível a toda inspeção?
O silêncio generalizado sobre esse fato
ao qual o meu próprio silêncio se submeteu
me soa como uma grave mentira
e uma coação que ameaça castigar quando não se respeita;
"antissemitismo" é o nome da condenação.
Agora, no entanto, porque o meu país foi atingido
e chamado às falas uma e outra vez
por crimes muito particulares
incomparáveis rotineiramente
mesmo que depois qualificada como reparação
vai entregar a Israel outro submarino cuja especialidade
é dirigir ogivas aniquiladoras
em direção aonde não se comprovou a existência uma única bomba,
embora se queira apresentar como prova o medo.
Digo o que deve ser dito.
Por que me calei até agora?
Porque achava que minha origem,
marcada por um estigma indelével,
me proibia de atribuir esse fato, como é evidente,
ao país chamado Israel, ao qual estou unido e quero continuar estando.
Por que só agora digo, envelhecido e com minha última tinta:
Israel, potência nuclear, coloca em perigo uma paz mundial já por si mesmo f'rágil?
Porque é preciso dizer o que amanhã poderia ser tarde demais,
e porque incriminados o bastante por ser alemães poderíamos ser cúmplices
de um crime que é previsível,
tornando nossa parcela de culpa impossível de ser extinta com as desculpas de sempre.
Admito: não continuo calado porque estou farto da hipocrisia do Ocidente;
cabe esperar ainda que muitos se liberem do silêncio,
exijam ao causador desse perigo visível que renuncie ao uso da força
e insistam também em que os governos de ambos os países
permitam o controle permanente e sem barreiras
por uma instância internacional
do potencial nuclear israelense e das instalações nucleares iranianas.
Só assim poderemos ajudar a todos israelenses e palestinos
e sobretudo a todos os seres humanos que nessa região tomada pela demência
vivem como inimigos lado a lado
odiando-se mutuamente, e, definitivamente,
ajudar-nos também.